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domingo, 23 de outubro de 2011

Tv será que traz sabedoria?

TV e cultura: isso é possível?

A cada dia, ao retornarmos ao lar, fatigados¹ de nossa rotina modernamente conturbada, há “algo” que está sempre nos esperando. No passado, seria a nossa mãe ou, em alguns casos, o cachorro. Mas o fato é que, na atualidade, quem inevitavelmente está em casa lá para nos acolher é a TV. Muitos, inclusive, antes de dizer “Oi, mãe!”, “Oi, Totó!” ou “Oi, amor!”, ligam o aparelho, para prontamente escutar “A gente se liga em você”. Ou, então, encontram a mãe, o cachorro e o seu companheiro, hipnotizados, babando como zumbis na frente da telenovela. A TV, definitivamente, “se liga na gente”.
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Legenda: A que programa ele estaria assistindo? Por: Laertes. Creative Commons. Atribuição 2.0 Genérica (CC BY 2.0).
Assim, ao invés de termos de perguntar um ao outro como foi o dia e dar explicações fastidiosas² ou, então, nos aborrecer para que brinquemos ou levemos o cachorro para passear, a adorada TV apenas exige que sentemos em nossas poltronas e relaxemos. Ela nos acolhe e permite que, por alguns momentos, nos desliguemos da realidade monótona do nosso cotidiano e adentremos em um mundo de aventura, romance, debates, esporte, música e “muito mais”. 
A sociedade moderna venera a televisão e a coloca em verdadeiros altares - os seus racks ou estantes enfeitados. Chegamos a gastar milhares de reais adquirindo aquela de melhor imagem, som mais potente ou qualquer outro super-recurso que, em tese, justifique seu preço exorbitante, sem que isso, contudo, mude o principal na relação entre expectadores e TV: a qualidade dos programas ofertados.
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Legenda: Sonho de consumo de gerações passadas. A TV é hoje uma importante mídia, que exerce grande influência sobre o cotidiano das pessoas. No Brasil, ela é um dos principais meios utilizados pela população para informar-se quanto aos assuntos políticos e econômicos, por exemplo. Por: por Robert Couse-Baker. Atribuição 2.0 Genérica (CC BY 2.0).
 
Se analisarmos o fenômeno da televisão e a sua inegável influência sobre as nossas vidas, sob a perspectiva das teorias de Karl Marx, muito embora sejam tais estudos anteriores ao surgimento do aparelho, veremos que alguns princípios enunciados pelo filósofo podem ser aplicados quase como se ambas (teoria e TV) tivessem surgido uma após a outra. Podemos dizer que os programas atualmente ofertados fazem com que a população adote, de forma homogênea, os princípios e valores de uma elite econômica, impedindo que se reconheça enquanto uma classe trabalhadora, explorada economicamente e iludida com o “sonho burguês” de comprar o jeans de marca, o carro bacana, a bolsa ou o sapato de grife usados na novela pela atriz X.
Não percebemos que todos os programas nos vendem produtos e valores morais, e isso acontece desde a roupa bacana usada pela mocinha, ao desdém com que os ricos da novela tratam os subservientes e leais empregados. Essa falta de percepção crítica da realidade chama-se alienação, segundo as análises da sociologia. Ou, então, perpetuamos o asco demonstrado pelos personagens pobres das tramas com relação à condição na qual vivem na ficção: “Coisa de pobre!” Como se fosse indigno ser pobre. A propagação de valores à grande massa alienada, de modo que ela acredite em um discurso que mascara a sua própria realidade e perpetua a condição de alienação a qual se encontra é chamada de ideologia por Marx.
Ainda analisando os comportamentos inspirados pela influência midiática, sob a ótica das teorias marxistas, se, por um lado, os produtos recebem status e importância pela mídia por serem da marca X ou Y, associados às figuras públicas de grande audiência, sendo venerados em seus anúncios comerciais, por outro lado, as pessoas transformam-se em meras mercadorias, que vendem sua mão de obra aos detentores dos meios de produção em troca de um salário aquém da quantidade de riquezas que produzem. A isso Marx chama de mais-valia.
Assim, a mercadoria passa a determinar as relações entre pessoas e o trabalhador passa a ser visto apenas como uma mera ferramenta em uma grande engrenagem produtiva, e só não é completamente dispensado, dando lugar a máquinas, por que se necessita dele na outra ponta nessa cadeia: como consumidor (e telespectador).
Voltando à programação televisiva, alguma alternativa para a sua falta de criatividade e, às vezes, de bom senso? Alguma luz de dignidade e cultura aliada ao entretenimento? A chave está justamente em nossa posição de consumidores.


 

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