O perigo da beleza
Frequentemente os meios de comunicação noticiam casos de mutilações e até mortes causadas pela busca desmedida da beleza. A estética corporal é hoje um dos segmentos que mais cresce no mundo, principalmente no Brasil, que figura em segundo lugar no ranking mundial de cirurgia plástica, só perdendo para os EUA. Certamente os cirurgiões não se incomodam com isso, pois trabalho para eles dificilmente faltará. Outros segmentos que veem com bons olhos a obsessão pelo corpo ideal são as indústrias farmacêuticas e de cosméticos, que faturam milhões de reais mensalmente atingindo lucros astronômicos.
Vale salientar, porém, que os meios de
comunicação têm um papel dúbio no que se refere à estética corporal, ao
mesmo tempo em que advertem para os perigos que os tratamentos e
procedimentos estéticos corporais podem oferecer - como o abuso de
medicamentos para emagrecer ou para tornar-se mais forte, os riscos do
uso de produtos químicos e da prática médica sem licença para realizar
cirurgias plásticas, entre outros -, são eles também responsáveis por
uma parcela da busca incessante pelo corpo ideal, uma vez que os modelos
e os personagens que aparecem nos programas de TV e nos anúncios
publicitários exibem corpos esculturais, estimulando, assim, as pessoas a
sacrificarem-se para seguir esse padrão de beleza.
A estética é uma palavra usualmente
utilizada para referir-se à beleza física, mas para a Filosofia esse
termo vai bem além disso. A raiz dessa palavra encontra-se no grego aisthesis,
que significa “faculdade de sentir”, “compreensão pelos sentimentos”,
“percepção totalizante”. É, portanto, o ramo da Filosofia que se ocupa
da arte, do belo e do feio, dos gostos e dos estilos, das percepções
artísticas, isto é, do que a arte suscita nos homens.
Mas como designar o que é belo e o que
não é? Que critérios utilizar? Na realidade, há desde muito uma grande
discussão entre os filósofos acerca da definição do belo. Primeiramente,
devemos levar em conta que o conceito de beleza depende do contexto em
que ela é analisada. Desse modo, o que é considerado bonito em
determinada cultura pode não o ser em outra. Por exemplo, você já ouviu
falar nas mulheres girafas?
Você considera isso bonito? Provavelmente
não, entretanto as mulheres que utilizam essas argolas acreditam
tornar-se mais bonitas, dentro de seu contexto cultural.
Outro fator que influencia na
determinação do belo é o período da história em que se encontra o
indivíduo. Observe algumas fotos de seus pais. Perceba como as roupas
eram diferentes e talvez um tanto estranhas para os padrões atuais.
Agora, pergunte a eles se consideravam suas roupas e seus penteados
feios naquela época. Pode ser que eles levem em consideração a beleza na
atualidade e até façam uma autocrítica; porém, no momento em que as
fotografias foram tiradas, o conceito de belo era outro. Essa ideia de
que a beleza é fruto do seu tempo pertence a Georg Wilhelm Friedrich
Hegel, filósofo do século XIX.
Platão, Aristóteles e outros filósofos da
Antiguidade acreditavam em uma beleza universal e padrão, o belo em si.
Para esses pensadores, em todos os objetos está o belo,
independentemente de quem os observa. Como as pessoas têm apreensões
diferentes sobre as coisas, o belo poderá tornar-se feio.
David Hume, filósofo do século XVIII, ao
contrário dos seus “amigos” da Antiguidade, acabou relativizando a
beleza. Para Hume, ela depende de cada um, ou seja, o que é bonito para
um pode não ser diante de outra pessoa. No mesmo século, Immanuel Kant
também se manifestou a respeito da tentativa de definir o belo. Segundo
esse pensador, belo é “aquilo que agrada universalmente, ainda que não
se possa justificá-lo intelectualmente. O juízo estético provém do
prazer que se alcança no objeto como tal” . O que importa, portanto, é o sentimento do sujeito, e não o objeto em si; é aquilo que lhe atribuímos.
A estética na Filosofia não se preocupa
apenas com a definição do belo, ela também analisa as obras de arte
levando em consideração as suas funções e os sentimentos e as reflexões
que ela provoca nos observadores. Dedica-se, ainda, à crítica de música,
de TV e de cinema. Mas deixemos esses assuntos para o futuro.
Agora que você conhece um pouco da
estética na Filosofia, a que conclusões você chegaria? Existe uma beleza
universal? O belo depende do ponto de vista? A beleza é fruto de seu
tempo? E se for, vale a pena sacrificar-se tanto em busca de um corpo
“ideal”, se daqui a algum tempo tudo isso se tornará démodé?
Antes refletir sobre isso, confira algumas discussões sobre os perigos que a obsessão pela beleza pode trazer.